Clássicos da Arquitetura: Cassino da Pampulha / Oscar Niemeyer

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Por Carlos Eduardo Comas

O Cassino de Niemeyer no lago da Pampulha assenta-se no alto de um promontório. Recepção e jogos ocorrem dentro duma caixa quase quadrada, num salão hipostilo e num mezanino. Danças e espetáculos acontecem no tambor oval sobre colunas, restaurante acima, bar abaixo. O bloco em forma de T à direita da caixa abriga a cozinha, sobre uma doca de carga e duas áreas de serviço.

Clássicos da Arquitetura: Cassino da Pampulha / Oscar Niemeyer - Orla, Costa
© Pedro Kok
Clássicos da Arquitetura: Cassino da Pampulha / Oscar Niemeyer - Orla, Janela, Costa
© Gustavo Neves da Rocha Filho. Cortesia de Arquigrafia (CC BY-NC)

A caixa e o bloco sucedem-se enfrentando a avenida e truncando o promontório. Quase centralizada, a marquise trapezoidal que protege a chegada de carros estende um braço para enquadrar a estátua feminina, uma mão para refletir a projeção do bloco. O tramo de chegada da rua interna alinha com a doca, o de saída com a galeria escavada no lado oposto da caixa. Dotado de uma grande platibanda para esconder o equipamento de palco, o tambor coroa o promontório e domina o lago. Caixa e tambor definem um quadrado de braços quase iguais. Uma expansão da cobertura da caixa cria um pórtico entre eles. Quase tão alto e longo quanto a caixa, o bloco se ergue subordinado meio andar abaixo.

Plantas Baixas e Cortes. Cortesia de Carlos Eduardo Comas

Os três volumes são inteligentemente imbricados. Dentro da caixa, a nave contígua ao bloco inclui uma recepção de pé-direito duplo em frente a uma circulação e uma espinha de serviço em três níveis. Dois metros acima do nível da recepção, uma galeria se estende ao longo de faixa preenchida com banheiros, antecâmaras, acesso à cozinha, escadas de serviço e escritório. A administração fica sobre a faixa. Os camarins estão no nível da doca. Uma escada em espiral estreita ao lado da recepção provê ligação rápida entre salão e galeria. No trecho intermediário, a galeria vira patamar para as rampas entre o salão e o mezanino, correndo retas e paralelas à fachada de entrada. Além da caixa, a galeria se divide em duas rampas curvas à volta do palco, uma delas alargada para ligar a cozinha ao restaurante. O esquema da circulação se completa com uma escada interna, ligando camarins ao palco acima, e uma externa, ligando o restaurante à varanda e ao bar adjacente.

Clássicos da Arquitetura: Cassino da Pampulha / Oscar Niemeyer - Janela, Fachada
© Pedro Kok

De outro lado, a articulação entre a caixa, o cilindro, o bloco e a marquise garante quatro elevações tripartites, cada uma com elemento central projetando-se sobre colunas. O acesso é frontal, mas a obliqüidade aviva o partido. Os elementos de composição tomam formas em L aninhadas, de eixos perpendiculares ao raio da curva feita pelo carro antes de alcançar a marquise. A relação entre tambor e caixa assemelha-se à relação entre as figuras homólogas do bloco e da marquise. A simetria diagonal é reiterada na articulação do mezanino em forma de L com o salão e a recepção quase quadrados.

Clássicos da Arquitetura: Cassino da Pampulha / Oscar Niemeyer - Fachada
© Pedro Kok

A marquise do Cassino pesa sobre o aço fino. Seus braços arqueados são uma nota delicada diante da ortogonalidade dominante, roubando da guarita em Garches para enquadrar a estátua de Zamoisky. Em Montecarlo, é costume os jogadores tocarem no joelho dum cavalo de bronze para ter sorte. Na Pampulha, a estátua reclinada é uma figura feminina, trazendo à mente que é uma deusa que governa a sorte, o destino e as oportunidades no mito latino. Fortuna tinha o poder de levantar o mortal indigno e rebaixar os poderosos; ela controlava o destino de todo vivente, dotando de fertilidade os homens, as plantas e os animais, e se mostrava como uma mulher cega segurando um leme, para dirigir o curso do mundo, e uma cornucópia, para as riquezas que ela podia retirar do chifre de Amaltéia, da cabra que amamentou o Júpiter menino, a abundância prometida pelo deus à família que era proprietária do animal. Curiosamente, o braço arqueado pode passar por chifre estilizado ou pelo crescente ou laço que eram os atributos de Diana noturna. No lado oposto, transpondo um episódio da sequência da entrada no Exército da Salvação, apoios duplos delineiam, esperançosos, o V da vitória, Si non è vero, è bene trovato. Hedonismo nunca significou cérebro vazio.

Clássicos da Arquitetura: Cassino da Pampulha / Oscar Niemeyer - Jardim
© Pedro Kok
Belo Horizonte, Brasil

Referência: Carlos Eduardo Comas, "O Cassino de Niemeyer e os delitos da Arquitetura Brasileira", ARQTEXTO, no. 10-11, 2007.

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Endereço:Avenida Otacílio Negrão de Lima, 16585 - Jardim Atlântico, Belo Horizonte - Minas Gerais, 31365-450, Brasil

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Sobre este escritório
Cita: Igor Fracalossi. "Clássicos da Arquitetura: Cassino da Pampulha / Oscar Niemeyer" 05 Nov 2013. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-151457/classicos-da-arquitetura-cassino-da-pampulha-slash-oscar-niemeyer> ISSN 0719-8906

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